Leia a matéria de Suetoni Souto Maior:
A expressão jogo é jogo é largamente utilizada na política para mostrar que uma coisa é a teoria, a outra é a prática na busca por votos. Antes de o período eleitoral ser iniciado ouvi de muita gente previsões de que indubitavelmente haveria segundo turno na capital e que nele estariam Cícero Lucena (PP) em disputa com Luciano Cartaxo (PT) ou com Ruy Carneiro (Podemos). Nos embates, chamei a atenção para o ex-ministro Marcelo Queiroga (PL), apesar de este último ter entrado na disputa como neófito. Pesaria a favor dele, na minha concepção, a força do bolsonarismo e a crença de que 20% dos votos ou pouco mais que isso garantiria a vaga. Eu estava certo.
Os ingredientes da disputa ajudavam na avaliação. Luciano Cartaxo entrava na corrida eleitoral com o ativo de ter sido um prefeito bem avaliado e que foi reeleito no primeiro turno em 2016. Mas chegava também com o passivo de não ter formado grupo e ainda ter rachado o partido numa disputa fratricida contra a petista Cida Ramos. Isso levou à falta de apoio massivo da esquerda e ele ficou em quarto lugar. Já Ruy Carneiro agregava ao seu nome o fato de ter crescido fortemente na reta final da disputa de 2020, quando quase chegou ao segundo turno. Mas agora, trouxe como passivo uma condenação criminal no caso Desck. E isso pesou na hora de pedir votos.
Com isso, entrou Queiroga nesta equação. E não foi simples. Ele tinha tudo para naufragar ainda no primeiro turno. Não tem carisma, demonstra desconhecimento da cidade e uma surpreendente incapacidade de explicar suas propostas. Mesmo assim, conseguiu na reta final do primeiro turno crescimento suficiente para passar adiante, ancorado no bolsonarismo raiz. Ele angariou 21,77% dos votos e impediu a vitória de Cícero no primeiro turno. O prefeito conquistou, naquela oportunidade, 49,16% dos votos. Era muito, mas insuficiente para a vitória antecipada.
Mas o que surgiu como esperança para os bolsonaristas no segundo turno não progrediu. Queiroga até conseguiu a adesão de Ruy Carneiro e dos seus apoiadores, mas não a transferência integral dos votos. No outro lado, Luciano Cartaxo e o ex-governador Ricardo Coutinho, ambos do PT, tucanaram e preferiram não se posicionar em relação ao segundo turno. O PT e seus eleitores, apesar disso, migraram para o apoio ao atual prefeito. Uma adesão discreta, sem Lula, é verdade, mas efetiva. E isso foi mostrado pelas pesquisas de opinião.
Então, o que aconteceu é que Cícero conseguiu melhorar a sua performance no segundo turno, construindo uma vitória com vantagem superior a 112 mil votos sobre Queiroga. E isso ocorreu porque a polarização de PT contra o bolsonarismo e vice-versa não funcionou integralmente. Isso porque o atual prefeito é insuspeito de figurar como nome da esquerda, o que possibilitou a ele agregar grande número de eleitores conservadores. O ex-ministro da Saúde do governo Bolsonaro, no entanto, conseguiu angariar apenas o contingente mais radicalizado da direita.
Aí chegamos a mais uma contradição. É inquestionável que João Pessoa, hoje, é uma cidade conservadora. Mas isso não o suficiente para mais que os 146.129 votos (36,09% do total) conseguidos por Queiroga. A consequência disso foi a terceira derrota seguida dos bolsonaristas na cidade. Em 2020, o mesmo Cícero de agora venceu o comunicador Nilvan Ferreira, na época no MDB. Dois anos depois, em 2022, o presidente Lula (PT) teve uma vitória apertada sobre o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Agora, a nova derrota do candidato bolsonarista mostra não apenas que já se pode pedir música no Fantástico, mas também a falência da busca pela polarização única estratégia política nas disputas em terras paraibanas.
Com informações de Suetoni Souto Maior